2ª Geração
A segunda geração do Romantismo em Portugal vai aproximadamente de 1838 e 1860, é marcada pelo pessimismo, desejo de evasão, vontade de morrer, devido a péssima condição de vida que vivia os autores dessa geração. Já está intensificada as características satíricas românticas. Por expressarem seus sentimentos livremente, sem se importarem com o que pensariam os outros, se entregam aos mais profundos devaneios, os autores dessa geração ficaram conhecidos por ultrapassarem os limites da estética e tornam-se os chamados ultrarromânticos.
Existindo já a predominância da estética e da ideologia romântica, os escritores privilegiavam temas sombrios e fúnebres, a melancolia, o tédio, o desespero, a enfermidade da vida. Fica clara nessa geração uma forte tendência do escapismo, a vontade de fugir das insatisfações que o mundo real provoca. Assim a morte passa a ser vista de forma positiva, significando para eles uma forma de se livrar da agonia de viver. Usavam uma linguagem fácil, acessível e comunicativa. A mulher é idealizada e inatingível, representadas por características como: pálida, branca, virginal, aérea, adormecida. Os cenários descritos nos poemas são normalmente noturnos e fúnebres, como em um cemitério ou uma praia sob a luz da lua, mostra a natureza de forma turbulenta, com tempestades e vendavais. Muitos estudiosos entendem essas características como o mundo interior do artista, que está transferindo para suas obras o estado de sua alma.
Essa geração ficou conhecida como o mal do século, por muitos artistas se entregarem ao tédio e levarem um estilo de vida destrutivo. Muitos deles se entregaram ao ópio e ao absinto, era muito comum suas mortes precoces, muitas vezes por doenças contagiosas, como a sífilis e tuberculose.
Os poetas ultrarromânticos reuniram-se em três grupos principais: o dos medievalistas, por volta de 1938, o do jornal literário O Trovador (1844) e o dO NOvo Trovador (1851). Do primeiro grupo fazem parte José Freire de Serpa Pimentel (1814-1870), autor de Solaus (1839), e Inácio Pizzarro de Morais Sarmento (1807-1870), autor do Romanceiro (1841). O segundo grupo é liderado por João de Lemos de Seixas Castelo Branco (1819-1890), autor do Cancioneiro (3 volumes, 1858-1859, 1866), Canções da Tarde (1875), de que ressalva uma composição que o tornou famoso na época (Lua de Londres), e da prosa contida em Serões de Aldeia (1876). Neste grupo está também: Luís Augusto Palmeirim (1825-1893), Antônio Xavier Rodrigues Cordeiro (1819-1900), Augusto José Gonçalves Lima (1823-1867), Antonio Maria do Couto Monteiro (1821-1896), Francisco de Castro Freire (1811-1881), Antônio de Serpa Pimentel (1825-1900) entre outros. O grupo dO Novo Trovador é chefiado por Soares de Passos, o mais inspirado poeta de sua geração. Outros membros estão: Alexandre José da Silva Braga (1829-1895), autor de Vozes da Alma (1849, com a segunda edição em 1857), Joaquim Simões da Silva Ferraz (1834-1875) e Aires de Gouveia. Pode ser incluída nessa lista de ultrarromanticos: Maria de Felicidade do Couto Brownw (1797-1861).
Embora o Ultrarromantismo seja essencialmente constituído pela poesia, muitos dos seus ingredientes também são expressos em prosa. Mudando, porém, o local onde se passam os acontecimentos: a poesia localiza-se predominantemente em Coimbra, a prosa é derivada do ambiente hipersensível do Porto nos anos seguintes a 1850.
Os dois principais nomes que representam fortemente essa geração são: Camilo Castelo Branco e Soares de Passos, cada qual em seu gênero e a seu modo, são as grandes figuras do Ultrarromantismo português.
SOARES DE PASSOS
Antonio Augusto Soares de Passos nasceu em 27 de novembro de 1826, no Porto. Nascido de família burguesa, se vê obrigado a trabalhar no Balcão do armazém paterno enquanto paralelamente estuda. Com grande dificuldade recebe do pai autorização para estudar direito em Coimbra, onde se matricula em 1849. Em 1851, funda o Novo Trovador, mas no ano seguinte começa a sentir os primeiros sintomas da tuberculose, que o obriga a retrair-se do convívio social. Em 1854, formado, volta ao Porto, para tentar em vão um emprego justo. Debilitado, se recolhe em seu quarto por meses, indiferente a tudo, inclusive à poesia. A única ligação que tinha com o mundo era através de seus amigos que vinham visitá-lo. Diante desse cenário acaba falecendo em 08 de fevereiro de 1860.
Soares de Passos reuniu suas composições em um volume, Poesias (1855), que foram feitos grandes elogios por Herculano. Sua vida e obra mostram o prazer romântico da fuga, em seu caso, da responsabilidade concreta do mundo social.
Sua poesia era coberta de pessimismo, característica que uma pessoa que sente a morte próxima e a cultiva carinhosamente sua presença, um tanto por morbidez, um tanto por “literatura”. Daí que nasce a poesia da decomposição, a poesia fúnebre, que é exemplo o poema que tornou Soares de Passos famoso: “O Noivado do Sepulcro”.
Estranhamente era capaz de fazer poesias totalmente inversas a esse cenário citado anteriormente, carregados da satisfação de apetites carnais. É o caso dos poemas o “Firmamento” e “O Anjo da Humanidade”.
A poesia de Soares de Passos é uma poesia forte, autêntica, fruto da experiência, uma espécie de diário íntimo de um autêntico mártir, transpira verdade e sinceridade em suas confissões da própria desintegração física e do desmoronar do mundo, que o situa acima dos poetas de sua geração e o deixa bem próximo de Garrett e João de Deus.
CAMILO CASTELO BRANCO
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, nasceu em Lisboa em 16 de março de 1825. Órfão de pai e mãe aos dez anos, segue para Trás-os-MOntes a viver com uma tia e depois com uma irmã, época em que estuda com o Padre Azevedo. Aos dezesseis anos casa-se com Joaquina Pereira mas abandona-a com a filha, raptou uma mulher casada, com quem passou a viver. Acusado de bigamia foi preso. Mais tarde viveu aventuras amorosas com outra mulher casada, uma turista e até mesmo uma freira. Em 1851, publica Anátema, o que dá início a sua carreira de novelista. Finalmente conhece e apaixona-se por Ana Plácido, senhora também casa que seria o grande amor de sua vida. Ambos foram presos, condenados por adultério. Na prisão Camilo escreveu Amor de Perdição (1862), obra que lhe proporcionou grande popularidade. Após terem sido absolvidos e morto o marido de Ana, os dois amantes passaram a viver juntos na propriedade que Ana herdara do falecido marido em 1964. Camilo é o primeiro poeta a viver da pena, era remunerado por seus trabalhos, vendo-se obrigado a sustentar esposa e três filhos, sendo um do casamento anterior de Ana. Camilo trabalha incansavelmente, mesmo com seus problemas familiares e dos sofrimentos causados pela sífilis. Em decorrência da sífilis ficou cego, torturado pela doença e cansado de suas condições de vida em 1° de junho de 1890 suicida-se.
Sua história é impressionante por conta de sua história de vida, cheia de aventuras e pelos sofrimentos causados pela orfandade e também pela quantidade enorme de obras escreveu, talvez formando a mais extensa e variada obra da Língua Portuguesa, Sendo sem dúvida um dos mais importantes escritores portugueses de todos os tempos, tendo sido historiador, tradutor, romancista, cronista, dramaturgo e crítico.
Vejamos algumas de suas obras: Anátema ( 1851), Mistérios de Lisboa (1854), A Filha do Arcediago (1854), Livro Negro da Padre Dinis (1855), A Neta do Arcediago (1856), Onde Está a Felicidade (1856), Um Homem de Brios (1856), O Sacófago de Inês (1856), Lágrimas Abençoadas (1857), Cenas da Foz (1857), Carlota Ângela (1858), Vingança (1858), O Que Fazem Mulheres (1858), O Morgado de Fafe em Lisboa (Teatro, 1861), Doze Casamentos Felizes (1861), O Romance de Um Homem Rico (1861), As Três Irmãs ( 1862), Amor de Perdição ( 1862), Memórias do Cárcere (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862), Estrelas Funestas (1862), Cenas Contemporâneas (1862), Anos de Prosa (1863), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (1863), O Bem e o Mal ( 1863), Estrelas Propícias (1863), Memórias de Guilherme do Amaral (1863), Agulha em Palheiro (1863), Noites de Lamego (1863), Amor de Salvação (1864), A Filha do Doutor Negro (1864), Vinte Horas de Liteira (1864), O Esqueleto (1865), A Sereia (1865), A Enjeitada (1866), O Judeu (1866), O Olho de Vidro (1866), O Olho de Vidro (1866), A Queda dum Anjo (1866), O Santo da Montanha (1866), A Bruxa do Monte Córdova ( 1867), A Doida do Candal (1867), O Senhor do Paço de Niñaes (1867), Os Mistérios de Fafe (1868), O Retrato de Ricardina (1868),Os Brilhantes do Brasileiro (1869), A Mulher Fatal (1870), Livro de Consolação (1872), A Infanta Capelista (1872) (conhecem-se apenas 3 exemplares deste romance porque D. Pedro II, imperador do Brasil, pediu a Camilo para não publicar, uma vez que dizia respeito à Família Real Portuguesa e à Família Imperial Brasileira), O Carrasco de Victor Hugo José Alves (1872), A Freira no Subterrâneo (1872), O Regicida (1874), A Filha do Regicida (1875), A Caveira da Mártir (1876), Novelas do Minho (1875-1877), A viúva do Enforcado (1877), Eusébio Macário (1879), A Corja (1880), A Senhora Rattazzi (1880), A Brasileira de Prazins (1882), O Vinho do Porto (1884), Maria da Fonte (1885), Vulcões de Lama (1886).
Referências bibliográficas:
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 2008
FERREIRA, Alberto. Perspectiva do Romantismo Português. Lisboa: Moraes Editores, 1971
WIKIPÉDIA, OBRAS DE CAMILO CASTELO BRANCO
https://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Castelo_Branco - Acesso em 14.04.2017
Por: Priscilla Rodrigues Menezes - D141EF-8
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