3ª Geração

A terceira geração do Romantismo ocorre entre os anos 1860 a 1870. É considerado um momento de transição, por já anunciar em sua construção, características do Realismo. Onde a ciência ganha credibilidade. Não há mais a visão de um mundo idealizado, o “eu” poético não tem devaneios com o “lugar perfeito”, apenas descreve o que “vê” e pensa sobre o futuro, acreditando na ciência e no progresso.

Traz um Romantismo mais equilibrado, regenerado com autores pré-realistas, livre dos exageros ultra-românticos, aquele que se faz entender e passa a escrever de maneira mais simples, menos rebuscada, certa tendência a moderação, com a diminuição dos exageros e da dramaticidade, sem devaneios ou fuga da realidade, apresenta espontaneidade lírica e musical.

É também caracterizada por poemas que abordam temas do cotidiano, o poeta aproxima a poesia do leitor, tentando “desvendar” o sentimento do mesmo. Nesta geração ainda encontramos a visão espiritualizada da mulher, a idealização amorosa, porém o “eu” poético nesta fase, não sofre por ela, na poesia não há temas melancólicos e desesperados. O que existe é o culto ao amor e à felicidade, e ainda que haja idealização a mulher, não deixa de ser moderado na sua contemplação.

Neste momento há a aproximação entre a arte e os problemas sociais com o domínio
burguês, ocorre a “profissionalização” do escritor, que passa a comercializar sua obra, enquanto o público paga para consumi-la. O romântico desta fase parece “aceitar” o que a vida
lhe impõe, porém através de seus trabalhos ele critica e mostra o seu desagrado frente a realidade da época, se mostra mais esperançoso.

Sobressaem-se nesse período, João de Deus, que foi apenas poesia, humano que lhe transcendia a vontade e a vaidade. E a prosa de Júlio Dinís, de uma tese moral em que pressupõem uma melhoria, embora remota, para a espécie humana. Colocados no final do processo romântico, já extemporâneos, purificam até o extremo as características românticas.

Integrando essa geração e sendo os dois maiores nomes dessa fase estão João de Deus um poeta, e Julio Diniz um prosador. João de Deus revela seu Idealismo, espiritualidade, exaltação da mulher e do amor, com isso, pôde subir ao nível do mais alto poeta romântico português. Jamais se excedeu ou aceitou ser um ultra-romântico. Manteve sempre um raro equilíbrio entre o sentimento mais alado e a forma mais simples. Conquistou, assim, a simpatia dos realistas, que o tinham como exemplo de superioridade poética.

Júlio Dinís pode ser considerado o iniciador do romance em Portugal. Em sua curta vida de trinta e um anos, elaborou apenas quatro romances, prega a crença na bondade humana e no poder regenerador da vida no campo, pois, a seu ver, a salvação do homem se encontra no abandono da existência nas grandes cidades e no reencontro das belezas naturais. Entretanto, os dados em que fundamenta essa visão romântica são-lhe fornecidos pela observação direta dos fatos. Com isso, anunciava o surgimento do Realismo, então a ensaiar os primeiros passos.


Vejamos a seguir vida e obra dos dois principais nomes dessa geração do Romantismo:


JOÃO DE DEUS

Um poeta nato, sua poesia era bipartida entre lírico amorosa e satírica. João de Deus de Nogueira Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines no dia 08 de março de 1830. O quarto de uma família de 14 filhos, com pais comerciantes não teve facilidade econômica para ingressar em uma universidade, para facilitar seu caminho, estudou latim e ingressou no Seminário de Coimbra. Como não tinha vocação para o sacerdócio, em 1949 com dezenove anos ingressou na Universidade de Coimbra para cursar direito. Envolvido na vida boêmia de Coimbra, algumas interrupções e pela quantidade de faltas, demorou dez anos para se formar. Seus dotes líricos foram aflorados logo no início de sua vida acadêmica, isso lhe rendiam modestos rendimentos, o que o ajudava a se manter. Era de  uma personalidade passiva, e seus recursos familiares levaram-no nos anos seguintes a uma condição financeira precária, para superar, contou com a ajuda de amigos que reuniram e organizaram suas poesias, as quais foram aparecendo na imprensa coimbrã da época. Essa atitude fez com que sua reputação fosse crescendo. No ano de 1858, foi fortemente elogiado por conta de seu artigo A propósito de um Poeta, publicado no Instituto de Coimbra. Em 1859 formado, decide permanecer em Coimbra.

Não se sentindo empolgado pela advocacia, em 1862 aceita fazer parte do periódico O Bejense como redator, muda-se para Beja. Permanecendo lá até o ano de 1864, voltando neste ano para São Bartolomeu de Messines , tentou seguir carreira advocatícia, sem sucesso, decide em 1868 partir para Lisboa, onde passou a residir. Em 1869 é eleito deputado contra sua vontade. Logo após sua candidatura casa-se com Guilhermina das Mercês Battaglia, que possuía boas condições financeiras, isso o traz estabilidade em sua vida financeira e pessoal. Deste casamento nasceram quatro filhos: Maria Isabel Battaglia Ramos, José do Espírito Santo  Battaglia Ramos, João de Deus Ramos e Clotilde Battaglia Ramos.

Bem estabilizado e com mais disponibilidade, publica nesse ano a coletânea  Flores do Campo, e uma pequena recolha intitulada Ramo de Flores, considerada sua melhor obra poética. Em 1873 publica textos em prosa Ana, Mãe de Maria, A Virgem Maria e A Mulher do Levita de Ephraim, traduções livres da obra Femmes de la Bible do arcebispo francês Georges Darboy, nessa mesma linha, publica as obras Grinalda de Maria, Loas da Virgem e Provérbios de Salomão.

Além de fantástico poeta, João de Deus também fez um trabalho incrível na área da pedagogia, publicando em 1876 a Cartilha Maternal, era um novo método para alfabetização, foi recebida de uma forma tão positiva que depois de dois anos foi adotada como o método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Essa obra o trouxe muitos elogios pelos principais intelectuais do momento, entre eles Alexandre Herculano e Adolfo Coelho. A expansão do método de ensino foi seguida de um grande reconhecimento à figura do poeta, o tornando uma das figuras mais populares do momento. E, 1895 foi organizada uma grande homenagem nacional ao poeta.

A poética de João de Deus insere-se numa perspectiva nova: a perspectiva popular. Esse poeta atualiza formas poéticas tradicionais, cujas origens estão no cancioneiro medieval e revigora essa tradição lírica, ao mesmo tempo em que se afasta do clichês literários do Ultrarromantismo. João de Deus impõe-se como lírico excepcional pela atitude do sentimento, singeleza da inspiração e naturalidade da linguagem.

O amor é motivo permanente de sua poesia, que possui um timbre próprio e acrescenta à tradição os achados de seu talento lírico. O poeta busca o sentimento amoroso no máximo da pureza abstrata, a visão da amada é totalmente espiritualista, era até frequente que fosse transformada em uma atitude um tanto mística. Para afugentar a sentimentalidade romântica era contraposta por uma clara tendência realista, para isso utilizava notas eróticas subterrâneas.   

Era um poeta instintivo e com uma sensibilidade invejável, requintada. Utilizava de uma linguagem límpida, equilibrada e sóbria de forma que suas palavras pareciam brotar, eram expostas tão naturalmente quanto o ato de respirar. Como seus recursos pareciam simples e fáceis, conseguiu expressar como ninguém a transparência  e a espontaneidade do convívio amorosa. Especialistas e estudiosos apontam a obra de João de Deus, no ângulo poético como a melhor do Romantismo português, isso por um conjunto de fatores, infelizmente alguns críticos ainda não o dão o título de melhor o que caracteriza para outros uma grande injustiça.

Suas obras e talentos eram invejáveis, isso o fazia carregar adversários, entre eles Joaquim Pedro de Oliveira Martins, que com consentimento do Ministério do Reino, decidiu mandar retirar a Cartilha Maternal das salas de aula, logo depois de ser nacionalmente homenageado. Depois disso João de Deus ficou muito doente, com um problema cardíaco e no dia 11 de janeiro de 1896 veio a falecer em sua própria residência. Mesmo depois de sua morte ainda foi e é muito homenageado.   

Suas principais obras são: A Esperança (1865), Flores do Campo (1868), Ramo de Flores (1869), Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil (1870), Folhas Soltas (1876), Cartilha Maternal (1876), Renascença (1878), Despedidas de Verão (1880), Campos de Flores (1893) que além de conter novos poemas é uma obra que reúne o conteúdo de Flores do Campo e Folhas Soltas,  colaborou também em algumas publicações periódicas, A Mulher (1879), Ribaltas e Gambiarras (1881), A Imprensa (1885), A Comédia Portuguesa (1888), A Semana de Lisboa (1893).



Referências bibliográficas:

ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, Maria Aparecida. História Social da Literatura Portuguesa. São Paulo: Ática, 1990.

COELHO, Jacinto do Prado (dir). Dicionário da Literatura. 3. ed. vol. 4, Porto: Figueirinhas, 1982.

LOPES, Oscar; SARAIVA, Antonio José. História da Literatura Portuguesa. Portugal: Porto Editora, s.d.

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. Cultrix, São Paulo: 30. ed, 1999

Por: Priscilla R. Menezes - D141EF-8



JULIO DINIZ

Considerado como um escritor de transição, situado entre o fim do Romantismo e o início do Realismo, Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto, em 1939, escritor português, Júlio Dinís é o seu pseudônimo literário, é autor de poesias, peças de teatro, mas destaca-se sobretudo como romancista, deixando em pouco mais de trinta e um anos uma produção original e inovadora, que contribuíram grandemente para a criação do romance moderno em Portugal. Órfão de mãe aos seis anos, estudou na Academia Politécnica do Porto, em 1855 ingressou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, mesmo ano em que dois irmãos morrem, vítimas da tuberculose. Formado em medicina, em1861 para o magistério universitário na escola médico-cirúrgico em Porto, mas se vê obrigado a abandoná-la por motivo de doença: a tuberculose.

Longe do passionalismo de Camilo, Júlio Dinís em suas obras mostra um amor movido mais pela espiritualidade e não leva necessariamente à tragédia, baseado na pureza dos sentimentos. Em seus romances há: tensões sociais, onde todos os conflitos podem ser resolvidos pela razão, pelo trabalho e pela ciência. A natureza intocada pela mão do homem é sempre o cenário para o desenrolar vidas desambiciosas e tranquilas, guiadas na bondade humana. Com livre acesso a todas as camadas sociais e idades, seus romances amarram-se sobre uma tese moral e teleológica e propõem uma melhoria para a espécie humana.

Foi o criador do romance campesino e as suas personagens, tiradas, na sua maioria, de pessoas com quem viveu ou contactou na vida real. Aliando a profissão de médico á de escritor, Licenciou-se em Medicina, mas dedicou-se sobretudo à literatura, podendo ser considerado como um escritor de transição, situado entre o fim do Romantismo e o início do Realismo. Seus primeiros textos foram publicados em Á Grinalda e O jornal do comércio. Por volta de 1855, entrou em um grupo de teatro o “Cenáculo”, e que escreveu suas primeiras peças de teatro, deixou o grupo em 1860. e estreou na revista A grinalda, como poesias românticas.

Sua carreira foi interrompida diversas vezes devido à doença de que sofria, que o obrigava a mudar-se para ambientes rurais. A procura de saúde retirou-se para Ovar e para ilha de madeira. Onde em 1836, passou uma temporada na casa de familiares, para se tratar de tuberculose, declarada um ano antes, descobre então os encantos da vida rural, que estará presente em grande parte das suas obras. se apaixonou por um tipo de romance diferente do que tinha vindo a escrever – o romance rural. Até então, as suas obras tinham um carácter lírico, novelístico e de romance citadino. já que, devido à influência do pai, médico, e à sua educação científica, Júlio Dinís tinha uma visão bem mais real e verdadeira do que a dos autores ultra-românticos.

Assinalando já a celebridade do escritor além fronteiras, em 1866 publicou o romance “As Pupilas do Senhor Reitor” em folhetins do jornal do porto, posteriormente, no ano de 1867 foi publicado em livro, tendo sido desde então várias vezes representado, cinematizado e televisionado sob a forma de adaptações, Seguem-se lhe, em 1868, Uma Família Inglesa, obra risonha e mais o menos, uma auto biografia análise da burguesia do porto e A Morgadinha dos Canaviais , são representadas no Teatro da Trindade. No ano do seu falecimento, 1871 (com apenas 31 anos de idade) concluiu o seu quarto romance, Os Fidalgos da casa Mourisca. Só depois da sua morte se publicaram Em 1874 o volume póstumo das Poesias e em 1910, a compilação de textos narrativos e teóricos “Inéditos” e “Esparsos”.

Morreu prematuramente, vítima da tuberculose, na madrugada de 12 de Setembro de 1871, na casa de uns primos. Na sua companhia estava Custódio de Passos, primo e fiel amigo, com quem trocou inúmeras cartas. Já há algum tempo que se encontrava confinado a uma cama, mal conseguindo andar. Morreu, desta forma, aquele que, segundo Eça: "viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve".

As suas principais obras, todas assinadas como Júlio Dinis, são: As Pupilas do Senhor Reitor (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Esparsos (1910), Teatro Inédito (1946-47). O único romance citadino é Uma Família Inglesa, baseado na literatura inglesa. As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais foram romances praticamente escritos em Ovar; já os Serões da Província e Os Fidalgos da Casa Mourisca foram redigidos no Funchal. Esta última obra não chegou a ser totalmente revista pelo autor devido à sua morte prematura.



Referencias bibliográficas:

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. Cultrix, São Paulo 30a edição, 1999

http://www.secrel.com.br/jpoesia/deus02.html

http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=196

https://www.infopedia.pt/$julio-dinis

https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=1024015

Pesquisado em 20/04/2017.

Por Diedna J. Gomes - D076J1-2.

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